domingo, 4 de setembro de 2016

2.3 - São Francisco e Santa Rosa de Viterbo


2.3 – São Francisco e Santa Rosa

Rosa, que é a Padroeira da Juventude Franciscana (JUFRA), apesar da pouca idade e da curta vida, entregou-se de corpo e alma na defesa da Fé Católica e do Papado, inserindo-se totalmente, sem medir esforços, ao espírito de seu tempo. Sendo seu grande modelo, neste combate espiritual, e, também, corporal, São Francisco de Assis. Não podemos compreender bem Santa Rosa sem ter em mente, sem uma visão da conjuntura política de seu tempo, principalmente na Itália, e sem ter em mente a vida e obra do Seráfico Pai, e seus seguidores, que já estavam estabelecidos em Viterbo no transcurso da vida de Rosa. É a partir do contato com estes que Rosa desenvolverá sua espiritualidade, e terá o desejo de incorporar-se à vida monástica das clarissas do Monastério de São Damião.

Sobre São Francisco e seus discípulos muito se escreveu, se escreve e se escreverá. Quem não ouviu falar deles? Estão aí até hoje, produzindo seus frutos de Paz e Bem. É fácil achá-los e conhecê-los. Dedicaremos algumas linhas a mais sobre: a situação política no tempo de Santa Rosa, a posição de Viterbo e Frederico II em sua guerra contra o Papado, portanto. E indicamos, efusivamente, aos que ainda pouco sabem sobre a vida do Pai Seráfico e sua obra, a fazê-lo o quanto antes, pois seu exemplo e caminho seguido é cada vez mais necessário no mundo contemporâneo. Houvessem mais “franciscos” e o planeta não estaria nesta situação lamentável em que se encontra.

Transcrevemos, somente, algumas palavras do próprio Francisco: as Admoestações, O Cântico do Irmão Sol, e a conhecidíssima Oração de São Francisco, para nos servirem como um resumo de sua espiritualidade.





Admoestações

1 – Do Corpo do Senhor
Disse o Senhor Jesus aos seus discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai senão por mim. Se me reconhecêsseis conheceríeis também o Pai. Doravante o conheceis porque o vistes. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isto nos basta. Jesus respondeu-lhe: Há tanto tempo estou convosco e não me conheceis? Filipe, quem me vê, vê também meu Pai” (Jo 14,6-9).
“O Pai habita numa luz inacessível” (1Tm 6,16), e: “Deus é um espírito” (Jo 4,26) e “ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1,18). Se Deus é espírito, só em espírito pode ser visto; pois “o espírito é que dá a vida, a carne não aproveita para nada” (Jo 6,63).
Mas também o Filho, sendo igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o Espírito Santo. Por isso são réprobos todos aqueles que viram o Senhor Jesus Cristo em sua humanidade sem enxergá-lo segundo o espírito e a divindade e sem crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus. De igual modo são hoje em dia réprobos todos aqueles que – embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que, pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e a divindade, nem creem que se trata verdadeiramente do corpo e o sangue de Nossos Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: “Este é o meu corpo e o sangue da nova Aliança” (cf Mc 14,22); e: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna” (cf Jo 6,55).
Por isso é o Espírito do Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do Senhor (cf Jo 6,62). Todos aqueles que não participam desse espírit e no entanto ousam comungar, “comem e bebem a sua condenação” (1Cor 11,29).
Portanto, “ó filhos dos homens, até quando tereis duro o coração?” (Sl 4,3). Por que não reconheceis a verdade “nem credes no Filho de Deus” (Jo 9,35)? Eis que Ele se humilha todos os dias (Fl 2,8); tal como na hora em que, “descendo do seu trono real” (Sb 18,5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob a aparência humilde; todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra hoje no pão sagrado. E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele como no seu Senhor e Deus (cf. Jo 20,28), assim também nós, vendo o pão e o vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: “Eis que estou convosco até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).

2 – Do vício da própria vontade
Disse o Senhor a Adão: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal” (Gn 2,16-17). Podia, pois, Adão comer de toda árvore do paraíso e, enquanto nada fazia contra a obediência, não pecava. Como, porém, da árvore da ciência do bem e do mal aquele que reclama sua vontade como propriedade sua e se vangloria dos bens que o Senhor diz e opera nele. Assim, atendendo às sugestões do demônio e transgredindo o mandamento, foi-lhe dado o pomo da ciência do mal. Por isso tem que suportar necessariamente o castigo.

3 – Da obediência perfeita
Diz o Senhor no Evangelho: “Quem não renuncia a todos os seus bens não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33), e “Quem quiser salvar a sua alma, perde-la-á” (Mt 16,25). Abandona tudo quanto possui e perde sua vida aquele que a si mesmo abandona inteiramente à obediência nas mãos do prelado. E tudo o que faz e diz, sabendo que não contraria a vontade dele, e sendo bom o que faz, é obediência verdadeira. E se acaso o súdito vê algo melhor e mais útil à sua alma do que aquilo que o prelado lhe ordena, sacrifique a Deus o seu conhecimento, se aplique com firmeza a cumprir as ordens do prelado, pois nisto é que consiste a verdadeira obediência feita com amor, que agrada a Deus e reverte a bem do próximo.
Entretanto, se o prelado der ao súdito alguma ordem contrária à alma, este todavia não se separe dele, embora não lhe seja lícito obedecer-lhe. E  se por esse motivo tiver de suportar perseguições da parte de alguém, que então o ame ainda mais por amor de Deus. Pois aquele que prefere aturar perseguições a querer ficar separado de seus irmãos, permanece verdadeiramente na perfeita obediência, porque “dá a sua vida pelos seus irmãos” (Jo 15,13).
Há efetivamente muitos religiosos que, sob o pretexto de verem coisas preferíveis às que os prelados ordenam, “olham para trás” (Lc 9,62) e “voltam ao vômito de sua vontade própria” (Pr 26,11). Esses tais são homicidas e, por seus exemplos funestos, causam a perdição de muitas almas.

4 – Que ninguém considere como propriedade sua o cargo de prelado
“Não vim para ser servido mas para servir” (Mt 20,28), diz o Senhor: Os que estão constituídos sobre os outros não se vangloriem dessa superioridade mais do que se estivessem encarregados de lavar os pés aos irmãos. E se a privação do cargo de superior os perturba mais que a privação do encango de lavar os pés, amontoam para si tanto mais riquezas com perigo para sua alma.

5 – Que ninguém se ensoberbeça, mas antes se glorie na cruz do Senhor
Considera, ó homem, a que excelência te elevou o Senhor, criando-te e formando-te segundo o corpo à imagem do seu dileto Filho e, segundo o espírito, à sua própria semelhança. Entretanto, as criaturas todas que estão debaixo do céu, a seu modo, servem e conhecem e obedecem ao seu Criador melhor do que tu. Não foram tampouco os espíritos malignos que o crucificaram, mas tu em aliança com eles o crucificaste e o crucificas ainda, quando te deleitas em vícios e pecados.
De que, então, podes gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso, porquanto um só demônio conhece mais das coisas celestiais e ainda agora conhece mais as da terra que todos os homens juntos, a não ser que alguém tenha recebido do Senhor um conhecimento especial da mais alta sabedoria.  Do mesmo modo, se fosses mais belo e mais rico que todos, e até operasses maravilhas e afugentasses os demônios, tudo isso seria estranho a ti nem te pertenceria nem disto te poderias desvanecer. Mas numa só coisa podemos “gloriar-nos: de nossas fraquezas” (2Cor 12,5), e carregando dia a dia a santa cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.

6 – Da imitação de Cristo
Consideremos todos, meus irmãos, o Bom Pastor que, para salvar suas ovelhas, sofreu a paixão da cruz. As ovelhas do Senhor seguiram-no na tribulação, na perseguição, no opróbrio, na fome, na sede, na enfermidade, na tentação e em todo o mais, e receberam por isso do Senhor a vida eterna. É pois uma grande vergonha para nós outros servos de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e glória somente por contar e pregar o que eles fizeram.

7 – Que à inteligência deve seguir a boa ação
 Diz o Apóstolo: “A letra mata, mas o espírito vivifica” (2Cor 3,6). São mortos pela letra os que tão-somente querem saber as palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir riquezas e dá-las aos parentes e amigos. São ainda mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito das Sagradas Escrituras, mas só se esforçam por saber as palavras e interpretá-las aos outros. São, porém, vivificados pelo espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de penetrar mais a fundo em cada letra que conhecem, nem atribuem o seu saber ao próprio eu, mas pela palavra e pelo exemplo o restituem a Deus, seu supremo Senhor, ao qual todo bem pertence.

8 – Do pecado da inveja a evitar
Diz o Apóstolo: “Ninguém pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, senão no Espírito Santo” (1Cor 12,3), e: “Não há quem faça o bem, não há sequer um só” (Rm 3,12). Todo aquele, pois, que tem inveja do seu irmão por causa do bem que o Senhor por ele diz e faz, comete pecado de blasfêmia, porque tem inveja do próprio Altíssimo, que é quem diz e faz todo bem.

9 – Da caridade
Diz o Senhor: “Amai os vossos inimigos”, etc. (Mt 5,44). Ama verdadeiramente o seu inimigo aquele que não se contristar pela injúria dele recebida, mas por amor de Deus se afligir com o pecado que está na alma dele, e por meio de obras lhe manifesta sua caridade.

10 – Da disciplina do corpo
Há muitos que, pecando ou recebendo alguma injúria, costumam lançar a culpa sobre o inimigo ou sobre o próximo. Mas assim não é na realidade, porquanto cada um tem sob o seu domínio o inimigo, isto é, o próprio corpo, por meio do qual ele peca. Feliz, pois, o servo (Mt 24,46) que, de contínuo, trouxer tal inimigo sob seu jugo e dele prudentemente se acautelar. Porque, enquanto assim agir, nenhuma outro inimigo visível ou invisível lhe poderá fazer mal.

11 – Que ninguém se deixe seduzir pelo mau exemplo de outrem
Ao servo de Deus nada deve desagradar senão o pecado. Mas se uma pessoa pecasse de qualquer forma que seja, e o servo de Deus ficasse por isso perturbado e enraivecido – a não ser por caridade – “entesouraria riquezas” (Rm 2,5) de culpa para si. Vive realmente sem nada de próprio aquele servo de Deus que não se enraivece nem perturba por causa de ninguém. E bem-aventurado aquele que nada retém para si, mas “dá a César o que de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21).

12 – De como se reconhece o Espírito do Senhor
Eis o meio de reconhecer se o servo de Deus tem o Espírito do Senhor. Se Deus por meio dele operar alguma boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu é sempre inimigo de todo bem, mas antes considerar como ele próprio é insignificante e se julgar menor que todos os outros homens.

13 – Da paciência
O servo de Deus não pode conhecer em que medida possui a paciência e a humildade, enquanto se sentir satisfeito em tudo. Quando porém vier o tempo em que o contrariarem os que deveriam andar conforme os seus desejos, então, quanta paciência e humildade ele manifestar, tanta terá e nada mais.

14 – Da pobreza de espírito
“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Muitos há que são zelosos na oração e no culto divino, e praticam muito a abstinência e a mortificação corporal. Mas por causa de uma única palavra que lhes pareça ferir o próprio eu ou de alguma coisa que se lhes tire, logo se mostram escandalizados e perturbados. Estes não são pobres de espírito, pois quem é deveras pobre de espírito odeia a si mesmo (cf. Lc 14,26; Jo 12,25) e ama aos que lhe batem na face (Mt 5,39).

15 – Da paz
“Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). São verdadeiramente pacíficos os que, no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.

16 – Da pureza de coração
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8). Têm o coração puro os que, desprezando as coisas terrenas, procuram as celestiais e, de coração e espírito puros, não cessam de adorar e de ver sempre o Deus vivo e verdadeiro.

17 – Do servo de Deus humilde
“Bem-aventurado o servo” (Mt 24,46) que não se envaidece com o bem que o Senhor diz e opera por meio dele mais do que com o que o Senhor diz e opera por meio de outrem. Peca o homem que exige do seu semelhante mais do que ele mesmo daria de si ao Senhor seu Deus.

18 – Da compaixão para com o próximo
Bem-aventurado o homem que suporta o seu próximo com suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por ele se estivesse na mesma situação.

19 – Entregar ao Senhor todo bem
Bem-aventurado o servo que entrega todos os seus bens ao Senhor seu Deus; porquanto, quem para si retém alguma coisa “esconde o dinheiro do seu amo” (Mt 25,18), e “o que julgava possuir ser-lhe-á tirado” (Lc 8,18).

20 – Permanecer humilde apesar dos louvores e honras
Bem-aventurado o servo que, sendo louvado e exaltado pelos homens, não se considera melhor do que quando é tido por insignificante, simplório e desprezível. Porque o homem vale o que é diante de Deus e nada mais. Ai do religioso que, enaltecido pelos outros, em sua obstinação não quer mais descer. E bem-aventurado o servo que não é por sua vontade enaltecido e que continuamente deseja ser posto debaixo dos pés dos outros.

21 – Verdadeira e falsa alegria
Bem-aventurado o religioso que não sente prazer nem alegria senão nas santas palavras e obras do Senhor e por elas conduz os homens em júbilo e alegria ao amor de Deus. E ai do religioso que se deleita com palavras ociosas e fúteis e, por esse meio, leva os homens a dar risadas.

22 – Do religioso frívolo e loquaz
Bem-aventurado o servo que não fala por interesse de recompensa nem manifesta tudo o que pensa nem é “precipitado ao falar” (Pr 29,20), mas calcula antes sabiamente o que deve dizer e responder. Ai do religioso que não conserva no fundo do ser coração (cf. Lc 2,51) os bens com que o Senhor o favorece e aos outros não os manifesta por suas obras, mas antes, na esperança de alguma recompensa, procura mostra-los aos homens por palavras. E esta será toda a sua recompensa, e os seus ouvintes colherão pouco fruto.

23 – Da reta correção
Bem-aventurado o servo que recebe as advertências, acusações e repreensões dos outros com tanta paciência como se proviessem dele mesmo. Bem-aventurado o servo que, repreendido, de boa mente se submete, com respeito obedece, humildemente reconhece sua culpa, voluntariamente oferece reparação. Bem-aventurado o servo que não procura logo escusar-se e com humildade suporta vergonha e repreensão por uma falta que não cometeu.

24 – Da verdadeira humildade
Bem-aventurado o servo que for achado tão humilde no meio de seus súditos como se estivesse no meio de seus senhores. Feliz do servo que sempre permanece firme sob a vara da correção. “Servo fiel e prudente” (Mt 24,45) é o servo que em todas as suas faltas não tarda em castigar-se, interiormente pela contrição e exteriormente pela confissão e obras de reparação.

25 – Da verdadeira caridade
Bem-aventurado o servo que ama ao seu confrade enfermo que não lhe pode ser útil, tanto como ao que tem saúde e está em condições de lhe prestar serviços. Bem-aventurado o servo que tanto ama e respeita o seu confrade quando está longe como se estivesse perto nem diz na ausência dele coisa alguma que não possa dizer na sua presença sem lhe faltar à caridade.

26 – Que os servos de Deus honrem os clérigos
Bem-aventurado o servo de Deus que põe a sua confiança nos clérigos que na verdade vivem segundo a forma da santa Igreja Romana. Mas ai daqueles que os desprezam! Pois nem que eles sejam pecadores, ninguém os deve julgar porque o Senhor mesmo reservou para si o direito de julgá-los. Porquanto na medida que excede a tudo a administração que eles exercem sobre o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, que eles recebem e só eles podem ministrar aos outros, em idêntica medida é maior o pecado daqueles que cometem falta contra eles do que o pecado cometido contra qualquer outro homem no mundo.

27 – Das virtudes que afugentam os vícios
Onde há caridade e sabedoria, não há medo nem ignorância.
Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação.
Onde à pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza.
Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação.
Onde o temor de Deus está guardando a casa (cf. Lc 11,21), o inimigo não encontra porta para entrar.
Onde há misericórdia e prudência, não há prodigalidade nem dureza de coração.

28 – De como se deve esconder o bem para não perdê-lo
Bem-aventurado o servo que “entesoura no céu” (Mt 6,20) os bens que o Senhor lhe concede e não procura manifestá-los ao mundo na esperança de ser recompensado, pois o próprio Altíssimo manifestará as suas obras a todos quantos lhe aprouver. Bem-aventurado o servo que guarda em seu coração os segredos do Senhor.

O Cântico do Irmão Sol

Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante
Com grande esplendos:
De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as sustentam em paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conforme à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.

Oração de São Francisco
Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna.



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