2.3
– São Francisco e Santa Rosa
Rosa, que é a Padroeira da Juventude Franciscana (JUFRA), apesar da pouca idade e da curta vida, entregou-se de corpo e alma na defesa da
Fé Católica e do Papado, inserindo-se totalmente, sem medir esforços, ao
espírito de seu tempo. Sendo seu grande modelo, neste combate espiritual, e, também,
corporal, São Francisco de Assis. Não podemos compreender bem Santa Rosa sem
ter em mente, sem uma visão da conjuntura política de seu tempo, principalmente
na Itália, e sem ter em mente a vida e obra do Seráfico Pai, e seus seguidores,
que já estavam estabelecidos em Viterbo no transcurso da vida de Rosa. É a
partir do contato com estes que Rosa desenvolverá sua espiritualidade, e terá o
desejo de incorporar-se à vida monástica das clarissas do Monastério de São
Damião.
Sobre São Francisco e seus discípulos muito se escreveu, se escreve e se escreverá. Quem não ouviu falar deles? Estão aí até hoje, produzindo seus frutos de Paz e Bem. É fácil achá-los e conhecê-los. Dedicaremos algumas linhas a mais sobre: a situação política no tempo de Santa Rosa, a posição de Viterbo e Frederico II em sua guerra contra o Papado, portanto. E indicamos, efusivamente, aos que ainda pouco sabem sobre a vida do Pai Seráfico e sua obra, a fazê-lo o quanto antes, pois seu exemplo e caminho seguido é cada vez mais necessário no mundo contemporâneo. Houvessem mais “franciscos” e o planeta não estaria nesta situação lamentável em que se encontra.
Transcrevemos, somente, algumas palavras do próprio Francisco: as Admoestações, O Cântico do Irmão Sol, e a conhecidíssima Oração de São Francisco, para nos servirem como um resumo de sua espiritualidade.
Admoestações
1 – Do Corpo do Senhor
Disse o Senhor Jesus aos
seus discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai
senão por mim. Se me reconhecêsseis conheceríeis também o Pai. Doravante o
conheceis porque o vistes. Disse-lhe Filipe: Senhor, mostra-nos o Pai e isto
nos basta. Jesus respondeu-lhe: Há tanto tempo estou convosco e não me
conheceis? Filipe, quem me vê, vê também meu Pai” (Jo 14,6-9).
“O Pai habita numa luz
inacessível” (1Tm 6,16), e: “Deus é um espírito” (Jo 4,26) e “ninguém jamais
viu a Deus” (Jo 1,18). Se Deus é espírito, só em espírito pode ser visto; pois
“o espírito é que dá a vida, a carne não aproveita para nada” (Jo 6,63).
Mas também o Filho, sendo
igual ao Pai, não pode ser visto por alguém de modo diferente que o Pai e o
Espírito Santo. Por isso são réprobos todos aqueles que viram o Senhor Jesus
Cristo em sua humanidade sem enxergá-lo segundo o espírito e a divindade e sem
crer que Ele é o verdadeiro Filho de Deus. De igual modo são hoje em dia
réprobos todos aqueles que – embora vendo o sacramento do corpo de Cristo que,
pelas palavras do Senhor, se torna santamente presente sobre o altar, sob as
espécies de pão e vinho, nas mãos do sacerdote – não olham segundo o espírito e
a divindade, nem creem que se trata verdadeiramente do corpo e o sangue de
Nossos Senhor Jesus Cristo. Atesta-o pessoalmente o Altíssimo quando diz: “Este
é o meu corpo e o sangue da nova Aliança” (cf Mc 14,22); e: “Quem comer a minha
carne e beber o meu sangue terá a vida eterna” (cf Jo 6,55).
Por isso é o Espírito do
Senhor, que habita nos seus fiéis, quem recebe o santíssimo corpo e sangue do
Senhor (cf Jo 6,62). Todos aqueles que não participam desse espírit e no entanto
ousam comungar, “comem e bebem a sua condenação” (1Cor 11,29).
Portanto, “ó filhos dos
homens, até quando tereis duro o coração?” (Sl 4,3). Por que não reconheceis a
verdade “nem credes no Filho de Deus” (Jo 9,35)? Eis que Ele se humilha todos
os dias (Fl 2,8); tal como na hora em que, “descendo do seu trono real” (Sb
18,5) para o seio da Virgem, vem diariamente a nós sob a aparência humilde;
todos os dias desce do seio do Pai sobre o altar, nas mãos do sacerdote. E como
apareceu aos santos apóstolos em verdadeira carne, também a nós se nos mostra
hoje no pão sagrado. E do mesmo modo que eles, enxergando sua carne, não viam
senão sua carne, contemplando-o contudo com seus olhos espirituais creram nele
como no seu Senhor e Deus (cf. Jo 20,28), assim também nós, vendo o pão e o
vinho com os nossos olhos corporais, olhemos e creiamos firmemente que está
presente o santíssimo corpo e sangue vivo e verdadeiro. E desse modo o Senhor
está sempre com os seus fiéis, conforme Ele mesmo diz: “Eis que estou convosco
até a consumação dos séculos” (Mt 28,20).
2
– Do vício da própria vontade
Disse o Senhor a Adão:
“Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas do fruto da
árvore da ciência do bem e do mal” (Gn 2,16-17). Podia, pois, Adão comer de
toda árvore do paraíso e, enquanto nada fazia contra a obediência, não pecava.
Como, porém, da árvore da ciência do bem e do mal aquele que reclama sua
vontade como propriedade sua e se vangloria dos bens que o Senhor diz e opera
nele. Assim, atendendo às sugestões do demônio e transgredindo o mandamento,
foi-lhe dado o pomo da ciência do mal. Por isso tem que suportar
necessariamente o castigo.
3
– Da obediência perfeita
Diz o Senhor no Evangelho:
“Quem não renuncia a todos os seus bens não pode ser meu discípulo” (Lc 14,33),
e “Quem quiser salvar a sua alma, perde-la-á” (Mt 16,25). Abandona tudo quanto
possui e perde sua vida aquele que a si mesmo abandona inteiramente à
obediência nas mãos do prelado. E tudo o que faz e diz, sabendo que não
contraria a vontade dele, e sendo bom o que faz, é obediência verdadeira. E se
acaso o súdito vê algo melhor e mais útil à sua alma do que aquilo que o
prelado lhe ordena, sacrifique a Deus o seu conhecimento, se aplique com firmeza
a cumprir as ordens do prelado, pois nisto é que consiste a verdadeira
obediência feita com amor, que agrada a Deus e reverte a bem do próximo.
Entretanto, se o prelado
der ao súdito alguma ordem contrária à alma, este todavia não se separe dele,
embora não lhe seja lícito obedecer-lhe. E
se por esse motivo tiver de suportar perseguições da parte de alguém,
que então o ame ainda mais por amor de Deus. Pois aquele que prefere aturar
perseguições a querer ficar separado de seus irmãos, permanece verdadeiramente
na perfeita obediência, porque “dá a sua vida pelos seus irmãos” (Jo 15,13).
Há efetivamente muitos
religiosos que, sob o pretexto de verem coisas preferíveis às que os prelados
ordenam, “olham para trás” (Lc 9,62) e “voltam ao vômito de sua vontade
própria” (Pr 26,11). Esses tais são homicidas e, por seus exemplos funestos,
causam a perdição de muitas almas.
4
– Que ninguém considere como propriedade sua o cargo de prelado
“Não vim para ser servido
mas para servir” (Mt 20,28), diz o Senhor: Os que estão constituídos sobre os
outros não se vangloriem dessa superioridade mais do que se estivessem
encarregados de lavar os pés aos irmãos. E se a privação do cargo de superior
os perturba mais que a privação do encango de lavar os pés, amontoam para si
tanto mais riquezas com perigo para sua alma.
5
– Que ninguém se ensoberbeça, mas antes se glorie na cruz do Senhor
Considera, ó homem, a que
excelência te elevou o Senhor, criando-te e formando-te segundo o corpo à
imagem do seu dileto Filho e, segundo o espírito, à sua própria semelhança.
Entretanto, as criaturas todas que estão debaixo do céu, a seu modo, servem e conhecem
e obedecem ao seu Criador melhor do que tu. Não foram tampouco os espíritos
malignos que o crucificaram, mas tu em aliança com eles o crucificaste e o
crucificas ainda, quando te deleitas em vícios e pecados.
De que, então, podes
gloriar-te? Mesmo que fosses tão arguto e sábio a ponto de possuíres toda a
ciência, saberes interpretar toda espécie de línguas e perscrutares
engenhosamente as coisas celestiais, nunca deverias gabar-te de tudo isso,
porquanto um só demônio conhece mais das coisas celestiais e ainda agora
conhece mais as da terra que todos os homens juntos, a não ser que alguém tenha
recebido do Senhor um conhecimento especial da mais alta sabedoria. Do mesmo modo, se fosses mais belo e mais
rico que todos, e até operasses maravilhas e afugentasses os demônios, tudo
isso seria estranho a ti nem te pertenceria nem disto te poderias desvanecer.
Mas numa só coisa podemos “gloriar-nos: de nossas fraquezas” (2Cor 12,5), e
carregando dia a dia a santa cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
6
– Da imitação de Cristo
Consideremos todos, meus
irmãos, o Bom Pastor que, para salvar suas ovelhas, sofreu a paixão da cruz. As
ovelhas do Senhor seguiram-no na tribulação, na perseguição, no opróbrio, na
fome, na sede, na enfermidade, na tentação e em todo o mais, e receberam por
isso do Senhor a vida eterna. É pois uma grande vergonha para nós outros servos
de Deus, terem os santos praticado tais obras, e nós querermos receber honra e
glória somente por contar e pregar o que eles fizeram.
7
– Que à inteligência deve seguir a boa ação
Diz o Apóstolo: “A letra mata, mas o espírito
vivifica” (2Cor 3,6). São mortos pela letra os que tão-somente querem saber as
palavras, a fim de parecer mais sábios que os outros e poder adquirir riquezas
e dá-las aos parentes e amigos. São ainda mortos pela letra aqueles religiosos
que não querem seguir o espírito das Sagradas Escrituras, mas só se esforçam
por saber as palavras e interpretá-las aos outros. São, porém, vivificados pelo
espírito das Sagradas Escrituras aqueles que tratam de penetrar mais a fundo em
cada letra que conhecem, nem atribuem o seu saber ao próprio eu, mas pela
palavra e pelo exemplo o restituem a Deus, seu supremo Senhor, ao qual todo bem
pertence.
8
– Do pecado da inveja a evitar
Diz o Apóstolo: “Ninguém
pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, senão no Espírito Santo” (1Cor 12,3), e: “Não
há quem faça o bem, não há sequer um só” (Rm 3,12). Todo aquele, pois, que tem
inveja do seu irmão por causa do bem que o Senhor por ele diz e faz, comete
pecado de blasfêmia, porque tem inveja do próprio Altíssimo, que é quem diz e
faz todo bem.
9
– Da caridade
Diz o Senhor: “Amai os
vossos inimigos”, etc. (Mt 5,44). Ama verdadeiramente o seu inimigo aquele que
não se contristar pela injúria dele recebida, mas por amor de Deus se afligir
com o pecado que está na alma dele, e por meio de obras lhe manifesta sua
caridade.
10
– Da disciplina do corpo
Há muitos que, pecando ou
recebendo alguma injúria, costumam lançar a culpa sobre o inimigo ou sobre o
próximo. Mas assim não é na realidade, porquanto cada um tem sob o seu domínio
o inimigo, isto é, o próprio corpo, por meio do qual ele peca. Feliz, pois, o
servo (Mt 24,46) que, de contínuo, trouxer tal inimigo sob seu jugo e dele
prudentemente se acautelar. Porque, enquanto assim agir, nenhuma outro inimigo
visível ou invisível lhe poderá fazer mal.
11
– Que ninguém se deixe seduzir pelo mau exemplo de outrem
Ao servo de Deus nada deve
desagradar senão o pecado. Mas se uma pessoa pecasse de qualquer forma que
seja, e o servo de Deus ficasse por isso perturbado e enraivecido – a não ser
por caridade – “entesouraria riquezas” (Rm 2,5) de culpa para si. Vive
realmente sem nada de próprio aquele servo de Deus que não se enraivece nem
perturba por causa de ninguém. E bem-aventurado aquele que nada retém para si,
mas “dá a César o que de César, e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21).
12
– De como se reconhece o Espírito do Senhor
Eis o meio de reconhecer se
o servo de Deus tem o Espírito do Senhor. Se Deus por meio dele operar alguma
boa obra, e ele não o atribuir a si, pois o seu próprio eu é sempre inimigo de
todo bem, mas antes considerar como ele próprio é insignificante e se julgar
menor que todos os outros homens.
13
– Da paciência
O servo de Deus não pode
conhecer em que medida possui a paciência e a humildade, enquanto se sentir
satisfeito em tudo. Quando porém vier o tempo em que o contrariarem os que deveriam
andar conforme os seus desejos, então, quanta paciência e humildade ele
manifestar, tanta terá e nada mais.
14
– Da pobreza de espírito
“Bem-aventurados os pobres
de espírito, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5,3). Muitos há que são
zelosos na oração e no culto divino, e praticam muito a abstinência e a
mortificação corporal. Mas por causa de uma única palavra que lhes pareça ferir
o próprio eu ou de alguma coisa que se lhes tire, logo se mostram
escandalizados e perturbados. Estes não são pobres de espírito, pois quem é
deveras pobre de espírito odeia a si mesmo (cf. Lc 14,26; Jo 12,25) e ama aos
que lhe batem na face (Mt 5,39).
15
– Da paz
“Bem-aventurados os
pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). São
verdadeiramente pacíficos os que, no meio de tudo quanto padecem neste mundo,
se conservam em paz, interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus
Cristo.
16
– Da pureza de coração
“Bem-aventurados os puros
de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5,8). Têm o coração puro os que,
desprezando as coisas terrenas, procuram as celestiais e, de coração e espírito
puros, não cessam de adorar e de ver sempre o Deus vivo e verdadeiro.
17
– Do servo de Deus humilde
“Bem-aventurado o servo”
(Mt 24,46) que não se envaidece com o bem que o Senhor diz e opera por meio
dele mais do que com o que o Senhor diz e opera por meio de outrem. Peca o
homem que exige do seu semelhante mais do que ele mesmo daria de si ao Senhor
seu Deus.
18
– Da compaixão para com o próximo
Bem-aventurado o homem que
suporta o seu próximo com suas fraquezas tanto quanto quisera ser suportado por
ele se estivesse na mesma situação.
19
– Entregar ao Senhor todo bem
Bem-aventurado o servo que
entrega todos os seus bens ao Senhor seu Deus; porquanto, quem para si retém
alguma coisa “esconde o dinheiro do seu amo” (Mt 25,18), e “o que julgava
possuir ser-lhe-á tirado” (Lc 8,18).
20
– Permanecer humilde apesar dos louvores e honras
Bem-aventurado o servo que,
sendo louvado e exaltado pelos homens, não se considera melhor do que quando é
tido por insignificante, simplório e desprezível. Porque o homem vale o que é
diante de Deus e nada mais. Ai do religioso que, enaltecido pelos outros, em
sua obstinação não quer mais descer. E bem-aventurado o servo que não é por sua
vontade enaltecido e que continuamente deseja ser posto debaixo dos pés dos
outros.
21
– Verdadeira e falsa alegria
Bem-aventurado o religioso
que não sente prazer nem alegria senão nas santas palavras e obras do Senhor e
por elas conduz os homens em júbilo e alegria ao amor de Deus. E ai do
religioso que se deleita com palavras ociosas e fúteis e, por esse meio, leva
os homens a dar risadas.
22
– Do religioso frívolo e loquaz
Bem-aventurado o servo que
não fala por interesse de recompensa nem manifesta tudo o que pensa nem é
“precipitado ao falar” (Pr 29,20), mas calcula antes sabiamente o que deve
dizer e responder. Ai do religioso que não conserva no fundo do ser coração
(cf. Lc 2,51) os bens com que o Senhor o favorece e aos outros não os manifesta
por suas obras, mas antes, na esperança de alguma recompensa, procura
mostra-los aos homens por palavras. E esta será toda a sua recompensa, e os
seus ouvintes colherão pouco fruto.
23
– Da reta correção
Bem-aventurado o servo que
recebe as advertências, acusações e repreensões dos outros com tanta paciência
como se proviessem dele mesmo. Bem-aventurado o servo que, repreendido, de boa
mente se submete, com respeito obedece, humildemente reconhece sua culpa,
voluntariamente oferece reparação. Bem-aventurado o servo que não procura logo
escusar-se e com humildade suporta vergonha e repreensão por uma falta que não
cometeu.
24
– Da verdadeira humildade
Bem-aventurado o servo que
for achado tão humilde no meio de seus súditos como se estivesse no meio de
seus senhores. Feliz do servo que sempre permanece firme sob a vara da
correção. “Servo fiel e prudente” (Mt 24,45) é o servo que em todas as suas
faltas não tarda em castigar-se, interiormente pela contrição e exteriormente
pela confissão e obras de reparação.
25
– Da verdadeira caridade
Bem-aventurado o servo que
ama ao seu confrade enfermo que não lhe pode ser útil, tanto como ao que tem
saúde e está em condições de lhe prestar serviços. Bem-aventurado o servo que
tanto ama e respeita o seu confrade quando está longe como se estivesse perto
nem diz na ausência dele coisa alguma que não possa dizer na sua presença sem
lhe faltar à caridade.
26
– Que os servos de Deus honrem os clérigos
Bem-aventurado o servo de
Deus que põe a sua confiança nos clérigos que na verdade vivem segundo a forma
da santa Igreja Romana. Mas ai daqueles que os desprezam! Pois nem que eles
sejam pecadores, ninguém os deve julgar porque o Senhor mesmo reservou para si
o direito de julgá-los. Porquanto na medida que excede a tudo a administração
que eles exercem sobre o santíssimo corpo e sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo, que eles recebem e só eles podem ministrar aos outros, em idêntica
medida é maior o pecado daqueles que cometem falta contra eles do que o pecado
cometido contra qualquer outro homem no mundo.
27
– Das virtudes que afugentam os vícios
Onde há caridade e
sabedoria, não há medo nem ignorância.
Onde há paciência e
humildade, não há ira nem perturbação.
Onde à pobreza se une a
alegria, não há cobiça nem avareza.
Onde há paz e meditação,
não há nervosismo nem dissipação.
Onde o temor de Deus está
guardando a casa (cf. Lc 11,21), o inimigo não encontra porta para entrar.
Onde há misericórdia e
prudência, não há prodigalidade nem dureza de coração.
28
– De como se deve esconder o bem para não perdê-lo
Bem-aventurado o servo que
“entesoura no céu” (Mt 6,20) os bens que o Senhor lhe concede e não procura
manifestá-los ao mundo na esperança de ser recompensado, pois o próprio
Altíssimo manifestará as suas obras a todos quantos lhe aprouver.
Bem-aventurado o servo que guarda em seu coração os segredos do Senhor.
O
Cântico do Irmão Sol
Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória, a honra
E toda a bênção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos;
E homem algum é digno
De te mencionar.
Louvado sejas, meu Senhor,
Com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão Sol,
Que clareia o dia
E com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante
Com grande esplendos:
De ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Lua e as Estrelas,
Que no céu formaste claras
E preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Vento,
Pelo ar, ou nublado
Ou sereno, e todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pela irmã Água,
Que é útil e humilde
E preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelo irmão Fogo
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e jucundo
E vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a mãe Terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz frutos diversos
E coloridas flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor,
Pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados os que as sustentam em
paz,
Que por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor,
Por nossa irmã a Morte corporal,
Da qual homem algum pode escapar.
Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
Conforme à tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e bendizei a meu Senhor,
E dai-lhe graças,
E servi-o com grande humildade.
Oração
de São Francisco
Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde
houver ódio, que eu leve o amor;
Onde
houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde
houver discórdia, que eu leve a união;
Onde
houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde
houver erro, que eu leve a verdade;
Onde
houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde
houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde
houver trevas, que eu leve a luz.
Ó
Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar,
que ser consolado;
Compreender,
que ser compreendido;
Amar,
que ser amado.
Pois
é dando que se recebe,
É
perdoando que se é perdoado,
E
é morrendo que se vive para a vida eterna.
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