domingo, 4 de setembro de 2016

8 - Viterbo: a Cidade dos Papas


8 - Viterbo: a Cidade dos Papas

Viterbo, uma comuna italiana da região do Lácio, berço de nossa amada Rosa, tem antiquíssima história.  De origem, uma cidade etrusca, estabelecida muitos séculos antes da fundação de Roma. Embora não haja consenso sobre sua importância para esta civilização, era parte de seu domínio territorial. Os estudos arqueológicos ainda estão em curso, e sua história antiga está por ser escrita com mais rigor e fundamentação[1].

A posição estratégica que ocupa em relação à antiga capital do Império Romano tornou-a fruto de cobiça ao longo dos séculos por muitos povos invasores e conquistadores.  Na Idade Média, Desidério, Rei Lombardo, em guerra contra os romanos e a Santa Sé, ali construiu uma fortificação. Em 774, Carlos Magno, tendo vencido o Rei Lombardo fez doação da cidade ao Papa.

VITERBO - PORTA ROMANA


No século XII foi motivo de disputa entre a Santa Sé e o Imperador Frederico I, o Barbarossa. E, no século XIII, palco de batalhas entre o exército de Frederico II, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e a mesma Santa Sé. Aqui, a história adquire relevo para nós porque é neste tempo, do Imperador Frederico II, e no contexto político de então, no calor da luta entre os Guelfos, que apoiavam o Papa, e os Gibelinos[2], partidários do imperador, que transcorre a vida de Santa Rosa. E a história de Viterbo se confunde com a história do Papado.

VITERBO - BAIRRO MEDIEVAL


De fato, Viterbo desde o século XII se tornara um refúgio para os Papas, mas é logo após a morte de Rosa, com o Papa Alexandre IV – que, como já visto, transportou pessoalmente o corpo de Santa Rosa para o Monastério onde se encontra, hoje – transferiu-se com sua corte para Viterbo, e durante um quarto de século a cidade foi o centro da cristandade: oito Papas fixaram ali suas residências, cinco foram eleitos, e quatro estão sepultados. Assim, Viterbo passou a ser chamada “Città dei Papi”: a Cidade dos Papas[3].


VÍDEO SOBRE VITERBO (em italiano)


O personagem político que domina a cena no período em que Rosa vive é, sem dúvida, Frederico II[4], o Stupor Mundi.  Polêmico, transitou entre a amizade e a inimizade da Igreja; pendulou entre o patrocínio de movimento cruzadístico e a perseguição ao Papado, até a excomunhão, o arrependimento e a confissão no leito de morte. Ao morrer, segundo Hertling, em Fiorentin di Pulia (Torremaggiore), o arcebispo de Palermo o absolveu, e seu testamento demonstra que ao final realmente se arrependeu de sua conduta e desejou repará-la[5].

Por outro lado, não podemos deixar de mencionar que no século XIII nasce dentro da Igreja movimentos que, ao longo dos séculos, produziram grandes transformações, que permanecem até os dias atuais. Basta dizer que é o período da criação das ordens mendicantes. Época de São Francisco, e a criação da Ordem Franciscana, e de São Domingos de Gusmão, e a Ordem Dominicana. Mas, também, do aparecimento, ou do crescimento, de movimentos heréticos, tal como o dos Cátaros, ou Albigenses, e, evidentemente, o combate destes pela Igreja, o que provoca, no interior desta, profundas mudanças.

Rosa, apesar da pouca idade e da curta vida, entregou-se de corpo e alma na defesa da Fé Católica e do Papado, inserindo-se totalmente, sem medir esforços, ao espírito de seu tempo. Sendo seu grande modelo, neste combate espiritual, e, também, corporal, São Francisco de Assis. Não podemos compreender bem Santa Rosa sem ter em mente, sem uma visão da conjuntura política de seu tempo, principalmente na Itália, e sem ter em mente a vida e obra do Seráfico Pai, e seus seguidores, que já estavam estabelecidos em Viterbo no transcurso da vida de Rosa. É a partir do contato com estes que Rosa desenvolverá sua espiritualidade, e terá o desejo de incorporar-se à vida monástica das clarissas do Monastério de São Damião.

Sobre São Francisco e seus discípulos muito se escreveu, se escreve e se escreverá. Quem não ouviu falar deles? Estão aí até hoje, produzindo seus frutos de Paz e Bem. É fácil achá-los e conhecê-los. Dedicaremos algumas linhas a mais sobre: a situação política no tempo de Santa Rosa, a posição de Viterbo e Frederico II em sua guerra contra o Papado, portanto. E indicamos, efusivamente, aos que ainda pouco sabem sobre a vida do Pai Seráfico e sua obra, a fazê-lo o quanto antes, pois seu exemplo e caminho seguido é cada vez mais necessário no mundo contemporâneo. Houvessem mais “franciscos” e o planeta não estaria nesta situação lamentável em que se encontra.

Talvez deva repetir, apenas, a oração de São Francisco deveras conhecida, que resume toda a sua espiritualidade:

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna.


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b) MARIANI, Francesco. Breve Noticia della Antiquità di Viterbo.
[5] HERTLING, 1989, pg 205.

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