4 - O Corpo Incorrupto de Santa Rosa
Com a morte de Rosa em 6 de Março de
1251, seu corpo foi sepulto em terra nua no cemitério paroquial da Chiesa
di Santa Maria in Poggio. Dezoito meses depois, o Papa Inocêncio IV ordenou
a abertura do processo de canonização e seu corpo foi exumado e sepulto
novamente no interior desta igreja, onde permaneceu por seis anos.
Em 1258 o Papa Alexandre I ordena, novamente,
a exumação do corpo. Segundo alguns biógrafos, e a tradição, em virtude dos
sonhos, ou visões, em que Rosa lhe aparecia fazendo-lhe o pedido seu corpo
fosse sepultado no monastério onde se encontra, hoje. Este é encontrado, ainda, em perfeito estado
de conservação, como se a santa acabasse de falecer. Este pontífice, então, em
vista das demonstrações de afeto e devoção dos viterbenses para com sua concidadã,
em 4 de Setembro de 1258 faz transferi-la, em solene procissão pelas ruas da
cidade, oficiada por si mesmo, e sendo o corpo de rosa carregado por 4
cardeais, seguidos da corte papal, autoridades, e da população, em festa.
O corpo ficou exposto ao contato
direto da população durante os séculos que se seguiram, quando era permitido
aos devotos beijar-lhe as mãos.
Foi submetido a diversos
reconhecimentos canônicos e estudos científicos: os últimos em 1921, 1962 e
1995.
Em 1921, foi feito reconhecimento
interno, quando se constatou o ótimo estado de órgãos, particularmente o
coração, que, íntegro, mas reduzido em tamanho, foi extraído e posto num
relicário.
O CORAÇÃO DE SANTA ROSA DE VITERBO |
Em 1995, uma equipe liderada pelo Professor Ruggero D'Anastasio da Facolta di Medicina dell'Università G. D'Annunzio, laureado em Ciências Biológicas pela Università degli Studi dell’Aquila, e PhD em Paleopatologia pela Università Cattolica del Sacro Cuore, em Roma, procedeu a minuciosos exames com as mais apuradas técnicas e equipamentos médicos.
Revelou-se que Rosa era portadora de
uma raríssima doença, causa de mortalidade em idade neonatal: Agenesia
Total do Esterno, uma má formação da parede torácica que deixa o coração e
os grandes vasos desprotegidos e cobertos apenas pela pele. Afirmam ser o
primeiro caso conhecido na ciência, antiga e moderna, em que esta rara
enfermidade foi observada em uma pessoa de 18-20 anos de idade.
Afirmam que a Agenesia Total do
Esterno é uma condição rara na população moderna, e a maioria dos casos é
associada com condições congênitas fatais, como a Anencefalia ou
a Pentalogia de Cantrell, e que a literatura menciona somente alguns casos
desta má-formação em neonatais, entretanto, todos os casos resultaram em óbito
depois de poucas semanas do nascimento.
4.1 - A Palavra da Ciência
A
seguir o resumo do laudo resultante do Reconhecimento Canônico[1],
em 1995:
O
Corpo de Santa Rosa de Viterbo
Reconhecimento,
intervenção, investigação e conservação[2]
(...)
O Corpo de Santa Rosa
sofreu, portanto, um processo de mumificação natural e sua excelente condição,
evidentemente, indica que a desidratação dos tecidos ocorreu suave e
imediatamente após a morte, de modo a não desencadear processos de putrefação
substanciais.
Em 1995, as autoridades
eclesiásticas solicitaram a intervenção do Laboratorio di Antropologia del
Ministero per i Beni e le Attività Culturali para ver alguns sinais de
degradação no corpo mumificado e planejar intervenções de conservação.
Efetivamente o exame macroscópico das superfícies do corpo mumificado
evidenciou a presença de pequenas formações esbranquiçadas nas quais foi
recolhido um pó amarelado muito fino, e pequenas protuberâncias em forma de
botões.
A análise microscópica das
lesões superficiais, executadas no local mediante um estereomicroscópio,
conjuntamente à análise química elementar do pó, mostrou que a camada de
nitrocelulose e de cera, antigamente aplicada à pele em ocasiões de
restaurações anteriores (feito pelo Dr. Pietro Neri em 1921 e mais tarde pelo
Dr. Osvaldo Zacchi em 1962), estavam se deteriorando. Além disso, também os
controles microbiológicos foram negativos.
Em conclusão, a
deterioração do corpo mumificado era relativa apenas às substâncias artificiais
aplicadas à superfície e o tratamento de conservação implicou somente na
remoção do revestimento de tinta de cera mediante calor e meios mecânicos,
fazendo retornar à pele original de Santa Rosa, apesar disto perfeitamente
conservada[3].
O reconhecimento científico iniciado em 1996 com o único propósito de praticar
uma intervenção de conservação foi uma oportunidade de reunir numerosas
informações de caráter antropológico e paleopatológico mediante aplicação das
mais modernas técnicas de investigação.
Métodos
Do ponto de vista
antropométrico, o comprimento máximo do corpo mumificado, tomado do vértice à
ponta do dedão direito é de aproximadamente 137 cm. Naturalmente, o comprimento
atual do corpo mumificado é diferente da estatura em vida de Santa Rosa: de
fato, as curvaturas naturais da coluna vertebral assumidas por ocasião
sepultamento, e a desidratação dos tecidos moles associados às articulações
conduziram a um encurtamento significativo do corpo.
A estatura em vida foi
calculada pelas fórmulas de regressão de Trotte & Glesser (1956, 79-123) e,
por comparação, às elaboradas por Olivier et al. (1978, 513-518), a partir do
comprimento total dos ossos longos tomados de suas radiografias. Em particular,
a reconstrução da estatura em vida foi levada a cabo a partir do comprimento da
tíbia direita, a qual, durante a radiografia da perna, encontrava-se num plano
paralelo ao da placa fotográfica: assim foi obtida uma radiografia de contato,
que não alterou a extensão do comprimento da tíbia. Ulteriores dados
antropométricos foram extrapolados a partir da medição das várias partes dos
membros e do tronco, tal como determinado por Kriussmann (1988, 232-285);
também foi efetuado o cálculo do crâneo segundo o índice de Broca.
Do ponto de vista
antropológico, a determinação do sexo resulta evidente na avaliação das
características sexuais dos órgãos moles externos, a apuração do corpo
mumificado, no entanto, foi acertada radiograficamente, através da avaliação
das características sexuais esqueléticas (Ferembach et al. 1977-79 , 5-38), que
são distintamente femininas.
Mesmo a determinação da
idade da morte foi realizada a partir de exames radiográficos do crânio e do
tronco (Ferembach et al., 1977-1979, 5-38).
O coração de Santa Rosa removido em 1921 e mantido em um relicário separado doado pelo Papa Pio XI foi submetido a exames radiográficos através da abertura feita pelo Dr. Neri para a sua remoção, e, em seguida, submetido a um exame endoscópico.
Para avaliar a presença de eventuais atividades biológicas dentro do corpo mumificado, ligada à presença de insetos xiloboros, foi efetuado um exame endofonográfico, com base em uma gravação profissional levada a cabo durante um período de dez horas (feita durante a noite) a baixa velocidade mediante fonoregistrador em cuja entrada foram aplicados dois microfones ajustados para profundidade média. Os microfones foram ligados diretamente sobre na pele, nas regiões mais afetadas por lesões. A análise química dos pós, realizada com métodos para via húmida, foi realizada no Laboratório de Antropologia, enquanto os testes microbiológicos, realizados quer por observação direta ao microscópio ótico de esfregaços obtidos a partir dos pós ou através de culturas em meios específicos, foram realizados no Istituti Biologici dell’Università Cattolica del Sacro Cuore di Roma.
Antropologia
De um ponto de vista antropológico, é evidente a partir da análise das características sexuais dos órgãos externos, que o corpo mumificado pertence a um indivíduo do sexo feminino. Este dado é confirmado pelo estudo das características sexuais secundárias do crânio e pélvis, confirmados por radiografia.
A estatura em vida calculada pelo método de Trotter & Gleser (1958, 79-123) resulta ser 155,49 cm (+/- 3,66 cm); um valor analógico é obtido pelo método de Olivier (1978, 513-518), com o qual se obtém uma estatura em vida de 154,92 cm (+/- 3,85 cm). Por isso, é verosímil admitir a estatura em vida de 154,92 cm (+/- 3,85 cm; valendo recordar que é a altura média das mulheres europeias, segundo reportado por Knussmann (1988, 232-285) se atesta em torno desse valor).
Com base na detecção das principais medidas antropométricas segundo os ponti di repere de Knussmann (1988, 232-285), as proporções gerais do corpo foram avaliadas através do cálculo dos principais índices somáticos.
Independentemente da idade da morte, as radiografias do crânio e membros mostrou os terceiros molares ainda não irrompidos e a presença de linhas metafisárias dos ossos longos ainda ativas; tais características do esqueleto correspondem a uma época de morte entre 18 e 21 anos, o que confirma os dados históricos.
Paleopatologia
Do ponto de vista paleopatológico, o exame da pele mostrou a presença de uma cicatriz na face exterior do braço esquerdo; o diagnóstico é confirmado por um fato histórico relacionado a uma lesão que Santa Rosa obteve durante o assédio da tropa de Frederico II à cidade de Viterbo[4].
O exame radiográfico dos membros mostrou a presença de linhas de Harris incompletas no nível inferior da metáfise da tíbia e da metáfise distal do fémur, devida à lentidão do crescimento ósseo em comprimento.
A radiografia de tórax demonstra o excelente estado de preservação dos órgãos internos. Por exemplo, é perfeitamente visível a sombra hepática localizada imediatamente acima da borda inferior do arco costal direito. Mas, acima de tudo, a mesma radiografia destaca a ausência do esterno e a posição curvada das clavículas com extremidades mediais muito rebaixadas. Na sequência da descoberta de vestígios de manipulações anteriores do corpo mumificado como, por exemplo, a presença de um trocarte na cavidade oral e, naturalmente, a abertura acima mencionada, sobre a face frontal do hemitórax esquerdo. Pensamos que a ausência do esterno era devido a uma manipulação. Por esta razão, procedemos à reabertura da velha incisão toráxica realizada pelo Dr. Neri em 1921 para a remoção do coração, e foram examinadas as terminações laterais por endoscopia. Ficou demostrado desta maneira o que as terminações laterais são arredondadas não apresentando vestígios de manipulações anteriores, o que mostra que estamos lidando com um caso de ausência do esterno, uma doença extremamente rara na população humana.
Foi recentemente autorizado o estudo do coração de Santa Rosa; a análise morfológica radiográfica do coração pôs em evidência uma anomalia grave e complexa: o coração tem uma ponta bífida, uma assimetria pronunciada do septo interventricular, e, como mostrado na radiografia, está presente uma massa radiopaca da extremidade distal do septo interventricular, que provavelmente corresponde a um hamartoma. As razões correspondentes aos átrios não são visíveis, porque provavelmente completamente colados.
Este novo dado coloca a ausência congênita do esterno como parte de uma malformação mais complexa da linha mediana, cuja singularidade reside no fato de ser encontrado em uma pessoa que conseguiu sobreviver até 18 anos. A literatura patológica atual registra pouquíssimos casos de agenesia total do esterno e todos, no entanto, observados em pessoas portadoras simultaneamente de outras graves anomalias e malformações; deduz-se que a agenesia do esterno, para os casos conhecidos na literatura, não é compatível com a vida, e todos os casos observados, como apareceram associados a outras malformações, levaram à morte dentro de poucas semanas, no máximo.
Santa Rosa de Viterbo representa o primeiro caso de um indivíduo, antigo ou moderno, que conseguiu sobreviver por até 18-20 anos de idade, com Agenesia Total do Esterno. (grifo nosso)
A reconstrução da aparência
facial de Santa Rosa de Viterbo foi realizada de acordo com metodologia de
Rhine e Campbell (1980); uma técnica experimentada muitas vezes no passado.
Antropologia Forense e em Medicina Legal (Iscan e Helmer, 1993), baseia-se na
aposição dos tecidos moles na superfície do osso, levando em consideração a
espessura diversa nos vários pontos anatômicos. A partir da radiografia do
crânio em projeção ântero-posterior e látero-lateral foi possível reconstituir
o perfil de Santa Rosa e o delineamento de seu rosto.
A reconstrução do aspecto
Santa Rosa ocorreu tendo em mente os dados antropológicos relativos à idade no
momento da morte, e também pela cor do cabelo, o estado dos dentes, cartilagens
(bem preservadas). Finalmente, foi adicionada roupa, tal como sugerido pelas
fontes históricas.
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[1] Tradução nossa do artigo
publicado no site da Parrocchia San
Francesco a Viterbo. Acessível em http://www.sanfrancescoviterbo.it/jsite.
[2] Os artigos publicados
nas revistas científicas internacionais, resultantes dos procedimentos podem
ser aferidos em:
a)
D’Anastasio
R., Capelli A.,Caramiello S., Capasso L., Paleopathology
of the mummy of Santa Rosa from Viterbo (Central Italy, XIII Century AD). Proceedings of the XIIIth European Meeting of the Paleopathology
Association, 18-23 settembre 2000, edited by Mirella La Verghetta and Luigi
Capasso, Edigrafital S.p.A., Teramo, 2001.
b)
CAPASSO, Luigi; CARAMIELLO, Salvatore;
D'ANASTASIO, Ruggero. The anomaly of Santa Rosa. The Lancet, v. 353, n.
9151, p. 504, 1999.
c)
CAPASSO, L.; CARAMIELLO,
S. The absence of the sternum in the
mummy of Santa Rosa da Viterbo (central Italy, XIII century AD). Paleopathology
newsletter, n. 107, p. 9-11, 1999.
d)
D'Anastasio, Ruggero et
al. The Heart of Santa Rosa. The Lancet , Volume 375 ,
Issue 9732 , 2168
[3] Curiosa, e
aparentemente, o corpo não reagiu bem à aplicação de tais elementos estranhos,
razão pela qual foram removidos, voltando o corpo a ser apresentado no seu
estado natural.
[4] Tal fato, reportado no
Processo Calistiano (Vita Seconda) e
relatado em algumas biografias sempre cercou-se de algum mistério, e parece,
agora, ter sido elucidado. Refere-se a uma flechada que uma adolescente sofrera
durante uma batalha - mas nunca fora confirmado se foi realmente Rosa, pois
esta era muitíssimo jovem na ocasião do cerco das tropas de Frederico II. A descoberta deste ferimento no corpo de Rosa
parece, então, confirmar que tal adolescente tratava-se, de fato, de Santa
Rosa.
Santa Rosa do Viterbo, Rogai por nós.
ResponderExcluirAmém!
Excluiramém.
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