domingo, 4 de setembro de 2016

8.2 - História do Conclave - Como é eleito um Papa?


8.2 - O Nascimento do Conclave

O que é um Conclave? Como é eleito um Papa? Qual a história do Conclave?

Com a morte do Papa Clemente IV sucedida em Viterbo, aos 29 de novembro de 1268, tem início a mais longa eleição papal da História da Igreja[1] que só terá fim em 1º de setembro de 1271, ficando a Sé Vacante[2] por 1006 dias até a escolha de um sucessor. É a eleição papal mais famosa, curiosa, e que ficou conhecida como “O Conclave de Viterbo”. Dos 19 cardeais eleitores que iniciaram a reunião, dois morreram neste interregno.

O fato resultante desta demora, além da insegurança e intranquilidade de toda a Igreja, foi uma grande impaciência da população, que a certa altura tomou providências drásticas: trancou os cardeais eleitores dentro do Palácio Papal. Eram alimentados, evidentemente, mas tiveram as provisões reduzidas. Persistindo o impasse, entretanto, removeram, pelo menos parcialmente, a cobertura do local onde se reuniam deixando-os expostos aos rigores atmosféricos, e reduziram mais ainda as provisões.

As divisões internas e injunções políticas impediam que se formasse a maioria necessária para a escolha do sucessor de Pedro. E depois deste longo período, quem foi eleito?

A escolha recaiu sobre Teobaldo Visconti, que não era Cardeal, não participava da reunião, não era da Cúria, e não era sequer sacerdote na ocasião: era um arquidiácono de Lieja, italiano, aplicado aos estudos e apóstolo zeloso, amigo de São Tomás de Aquino e de São Boaventura Bagnoregio, que vivera quase sempre no estrangeiro, e fora um dos organizadores do Primeiro Concílio de Lion. Teobaldo encontrava-se na Terra Santa quando foi eleito e passaram-se 4 meses até que chegasse a Viterbo, e depois a Roma, onde em 27 de março de 1272, depois de ser ordenado sacerdote e consagrado Bispo, foi entronizado com o nome de Gregório X.

O Papa Gregório X, então – fruto certamente da experiência ocorrida durante sua própria escolha -, estabeleceu as normas que regem até hoje, com algumas alterações pontuais ao longo dos séculos, mas sem mudá-las, em essência, as eleições papais, através da Constituição Apostólica Ubi Periculum, contendo disposições rigorosíssimas e procedimentos precisos para evitar ingerências externas e demasiada demora na escolha de um sucessor, e a administração da Igreja enquanto a Sé Vacante.

Na Constituição Apostólica Ubi Periculum aparece pela primeira vez a expressão “conclave” para referir-se, simultaneamente: ao local em que se reúnem os cardeais para a eleição do novo Papa, e à assembleia constituída com esta finalidade. O significado etimológico foi tomado das palavras latinas cum e clavis, um lugar reservado que se pode cerrar com chaves (“com chaves”).


CONCLAVE MODERNO - Na Capela Sistina


Mais recentemente, o Papa São João Paulo II, através da Constituição Universi Dominici Gregis, de 22 de fevereiro de 2006, que dispôs sobre a vacância da Sé Apostólica e a eleição do Romano Pontífice, modernizou alguns aspectos do Conclave, mas mantendo, em essência e finalidade, as mesmas diretrizes da Constituição Ubi Periculum.


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[1] SIGNORELLI, 1907, Libro III. “Papi i Conclavi a Viterbo”; CRISTOFORI, 1888, pg 12 e seguintes; COLOMER, 1988, Electing Popes; ZIZOLA, 2013. Il Conclave: Storia e Segreti; PIAZZONI, 2005
[2] Sé Vacante (latim: Sedes Vacans, i.e., trono ou cadeira vazia) é o período e as circunstâncias especiais que ocorrem quando uma igreja particular fica sem o Bispo, ou Pastor. Tal período é tratado nas leis canônicas para que a diocese não fique sem administração. Um caso especial é o da Sede Apostólica, ou Santa Sé, que é a diocese cujo ocupante, por consequência de ser o seu Bispo, torna-se o Papa, no caso, a Diocese de Roma.

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